Que estigma é este à volta do coaching?

Que estigma é este à volta do coaching?

Hoje vou falar-vos um pouco de um certo estigma que existe à volta do coaching; do que é o coaching; do que não é o coaching e muito mais.

Vou começar por vos contar uma estória. Há uns anos – não sei precisar quando, mas não foi assim há muito tempo – fui com os meus irmãos e respectivas namoradas ver um espectáculo de stand up comedy onde actuaram vários humoristas. Era num bar, uma coisa um bocado intimista… e a determinada altura um deles fez uma pergunta do tipo “Quem é que já esteve no local x?”. Eu disse que já tinha estado nesse local e ele interagiu comigo. Uma das primeiras coisas que me perguntou foi o que é que eu fazia e eu disse que era terapeuta manual e coach. 

Ora, isto é uma pérola para um humorista! Porque se há, actualmente, profissão risível, ridicularizada e com a qual os humoristas gostam muito de brincar é a profissão de coach.

Foi extraordinário! A primeira coisa que ele disse foi “hastag (#) gratidão” e mandou uma data de piadas sobre a área. Eu achei giríssimo porque adoro humor. É uma das ferramentas que uso diariamente na minha vida. Todos os dias “bebo” algumas doses de humor porque me dispõe bem. 

Este é um episódio caricato que serve apenas para ilustrar um certo preconceito que existe sobre os coachs e sobre o que é ser coach.

Partilho também que durante alguns anos, já depois de ter feito a minha primeira formação internacional na área de coaching, pensei: “vou ou não vou assumir isto?”… Eu sou terapeuta manual e quando fui procurar estudar ferramentas de coaching foi no sentido de poder fazer melhor o meu trabalho, não no sentido de me tornar coach. Mas depois percebi que muito daquilo que eu já fazia envolvia coaching e que era uma área que amava. Quando comecei a usar algumas ferramentas de coaching com alguns dos meus clientes, percebi que era poderosíssimo e que gostava muito daquilo.

No entanto, durante muito tempo andei nesta questão: “Digo que sou coach ou não digo que sou coach? Digo que faço coaching ou não digo que faço coaching?”… Tinha uma certa luta interna porque existe efectivamente um preconceito. Talvez, como todos os preconceitos, este também esteja baseado na desinformação ou má informação.

Então, eu acredito que haja muitas pessoas que pensem que um coach é uma pessoa que faz posts no instagram com frases que normalmente são algo cliché. Novidade: isso não é ser coach! Alguns coachs usam o instragram como ferramenta de comunicação e usam as estratégias que querem usar. Eu sou nova nestas andanças do instagram e estou a começar a trilhar este caminho. Agora, o que faz de mim coach não são os vídeos e as publicações que eu faço. Ou que outros coachs possam fazer… O que faz de nós coaches são as ferramentas que nós estudámos e que pomos em prática com os nossos coachees (que são os nossos clientes). 

Eu sou tão melhor coach, quanto melhores forem os resultados que os meus coachees atinjam. Ponto final! Um coach é alguém que facilita um processo no sentido de alcançar objectivos. É isto! Como? Através da implementação de algumas ferramentas que estudou. Existem bons e maus coaches, como em todas as áreas profissionais. 

Para tentar esclarecer melhor, há algumas notas que eu gostaria de deixar:

1. Coaching não é terapia

Psicoterapia é psicoterapia e coaching é coaching. No coaching não é suposto irmos perceber o que é que aconteceu lá atrás na infância ou que traumas é que o cliente tem. Para o processo de coaching, nada disso interessa.

Eu sou uma fã incondicional da psicoterapia. Quem me conhece sabe disso. Trabalho bastante em parceria com psicoterapeutas e eu própria faço psicoterapia (felizmente!). No entanto, aquilo que eu faço como paciente em psicoterapia não tem nada a ver com o que faço enquanto coach. Nada mesmo! São processos diferentes, com ferramentas diferentes, abordagens diferentes e com objectivos diferentes. 

O coaching serve para alcançar objectivos e não para tratar coisa alguma.

Ainda que haja questões que se possam tocar. Imaginemos que alguém tem um trauma que não lhe permite fazer algo e que decide recorrer ao coaching para o ajudar a alcançar esse objectivo. É possível. O coaching serve como forma de alavancar um determinado processo e pode ajudar em alguns destes casos. Mas não serve para tratar o trauma. Ok?

Eu sou de opinião – e acredito que isto seja polémico porque há profissionais da área que têm opiniões contrárias – mas eu sou de opinião que há muitas situações, não todas mas muitas, em que é vantajoso fazer coaching e terapia paralelamente

São coisas diferentes feitas por profissionais diferentes, muitas vezes com backgrounds diferentes. Ainda que haja psicólogos com formação em coaching e coachs com formação em psicologia. Eu acho que isso só enriquece. No entanto, operacionalmente, estas práticas profissionais funcionam de forma diferente e têm objectivos diferentes. 

Portanto, coaching não é terapia.

2. Coaching não é consultoria

Quando um cliente vem ter comigo para fazer coaching, eu não preciso de saber nada sobre a sua área profissional porque eu não vou dar opinião nenhuma. Eu não vou tomar qualquer decisão pelo cliente. O próprio processo e as ferramentas que usamos irão permitir que seja o cliente a chegar às conclusões. O meu papel é fazer perguntas. As perguntas! Portanto, coaching não é consultoria.

3. Coaching não é mentoria

Um mentor é alguém que tem um histórico profissional numa determinada área já com alguma consolidação e que pode ajudar outra pessoa que está numa fase de iniciação,  dando alguma orientação e aconselhamento. O que também não faz parte de um processo de coaching. Portanto, coaching não é mentoria.

4. Existe um preconceito?

Cá vou eu outra vez: eu trabalho muito com psicoterapeutas, sou super a favor da psicoterapia e acho que as duas disciplinas têm o seu lugar – uma não é substituta da outra. MAS sinto muitas vezes que há especialistas de algumas áreas profissionais (e a psicologia é uma delas) que tentam desvalorizar o coaching de alguma forma.

5. O coaching é para toda a gente?

O coaching é para toda a gente? Não é. Há pessoas que se identificam e outras que não se identificam. Assim como há pessoas que se identificam com determinadas abordagens de psicoterapia e outras identificam-se com outras. E, na minha opinião, está tudo certo! Por isso é que existem abordagens diferentes. Não somos todos iguais.

Decidi abordar este tema porque eu acredito MUITO naquilo que eu faço e acredito também que há muito bons coaches além de mim. Há outros que não são tão bons. Como em todas as profissões. Mas, repito, há muito bons coaches em Portugal!

Andei muitos anos a lutar comigo mesma: “assumo-me como coach ou não me assumo como coach?”. E aquilo que me permitiu desbloquear a resposta a esta pergunta foi não querer compactuar com este estigma. Se existe um preconceito à volta disto do que é ser coach, eu sinto que tenho alguma obrigação de não fazer parte dele. Prefiro esclarecer, dizer que aquilo que eu faço é coaching, que uso ferramentas de coaching na minha prática e mostrar que o coaching tem coisas maravilhosas.

Se tiver alguma dúvida sobre o que é o coaching, sobre o que se faz na prática ou sobre a área no geral, pergunte-me. Tenho todo o gosto em esclarecer. Pode fazê-lo por email ou nas nas minhas redes sociais (instagram, facebook ou linkedin).

Maria João Tarouca
Especialista em Desenvolvimento Psico Corporal e Coach Pessoal. Ajuda pessoas a alcançar objectivos e concretizar sonhos através da implementação de mudanças e novos hábitos. Descubra como melhorar a sua vida em mariajoaotarouca.pt.

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